A Sumária Ternura Declarada na Fita de Violência Coercitiva de Koe no Katachi

Um filme comovente, capaz de investir-nos em todos os personagens e criar sensações potencialmente agonizantes.

A Sumária Ternura Declarada na Fita de Violência Coercitiva de Koe no Katachi

Fonte: Site Oficial | Kyoto Animation

Quando criança, Shoya Ishida foi irrestrita e terminantemente impiedoso e insensível com Shoko Nishimiya, uma garota surda de sua classe da sexta série. Embora sua intensiva bolinação tenha provocado a expulsão da escola, ele não escapou ileso. Isto, pois o cenário de bullying foi publicado na sala de aula e inteiramente imputado ao comportamento de Ishida por seus amigos cúmplices. Em consequência, o garoto passou os cinco anos seguintes sendo rejeitado e até abusado fisicamente do mesmo modo que fez com Shoko. Nesse cenário, acompanhamos o filme da óptica do então amargurado Shoya, lidando com  dois pensamentos - cometer suicídio ou buscar reparar o dano que causou, sobretudo a Shoko.

O contexto de bullying, assedio e depressão são o grande chamariz que evoca o interesse de muitos para esse filme. Tendo como exemplo as práticas de bullying, ele é um problema em muitos ambientes escolares, seja no Brasil, EUA ou mesmo no Japão. No que lhe concerne, A Voz do Silêncio ataca o cerne da questão, inflexível em seu objetivo de retratar crianças sendo verdadeiros demônios desagradáveis umas com as outras. Assim, a película esmiuça como os efeitos colaterais podem ser terríveis ao impregnar-se na consciência das crianças e em tudo ao seu derredor. Por exemplo, o caderno de Shouko, cheio de insultos e outras coisas desagradáveis, seguidos por desculpas humildes na caligrafia da própria menina.

Por outro lado, Ishida é o abusador e, ao mesmo tempo um caso raro  de pessoa que mudou em sinceridade. Porquanto ele experimentou a mesma crueldade que causou a Shouko por cinco anos, ficou tão incapaz de comunicar-se quanto ela. Talvez até mais, seja porque ninguém quer conversar com ele, ou porque não consegue defrontar-se com outros. Assim como Wonder Egg Priority, o filme atinge com força o drama pretendido com essa dinâmica. Inclusive, as primeiras cenas de bullying de Ishidaa a pequena Shouko são legitimamente difíceis de suportar. Igualmente, o terror que ele sofreu durante toda a infância, é um soco no estômago forte o suficiente para muda-lo e para fazer-nos nos preocupar com sua saúde mental.

Na questão técnica, a Kyoto Animation exercitou muito seus músculos de animação para produzir esse filme com a delicadeza que ele merece. E ficaram rasgados. Isto, porque a dose de atenção dada até mesmo aos pequenos gestos e inquietação dos personagens é de um padrão altíssimo. Vale sublinhar que muitos dos méritos concernentes a esse grau de cuidado vão para a diretora Naoko Yamada. Tendo como exemplo, as decisões do como que ela representa o personagem principal. Shouya não consegue mais olhar no rosto das pessoas e para exprimir essa angustia a câmera e o rosto dele miram pés, objetos de fundo, pisos e o teto. Caso ele tente olhar para frente os rostos de seus colegas são obscurecidos por um grande x, a representação visual de sua ansiedade, medo e recusa de olha-lhos nos olhos. Citando caso parecido, a linguagem de sinais japonesa é expressa com beleza e precisão.

No que diz respeito a trilha sonora e composição, é tudo muito estranho e muito competente. A cena de abertura, por exemplo, começa com "My Generation": uma canção em inglês irrelevante para o foco temático da narrativa. Em paralelo, a música no background é agradável e melódica, embora utilizada às vezes em momentos não necessários. Em particular, Saori Hayami tem uma atuação de uma vida, cuja fala é realística e incompreensível devido à natureza de sua deficiência. Asseguramente, o estudo dela valeu o esforço.

Em relação aos personagens, presenciamos um milagre. Há uma dúzia de personagens com nome, e no curto espaço de duas horas, foram desenvolvidos, a despeito do menino de cabelo vermelho. Todos são suficientemente complexos em vários aspectos e dimensões que são claros e fáceis de entender. Até mesmo a mãe de Shouko tem um arco de personagem com começo, meio e fim, ainda que não tenha sequer um nome. E isso sem considerar que boa parte do tempo de tela é dado a Shouya - mesmo Nishimiya torna-se coadjuvante. Outrossim, o roteiro é envolvente, capaz de investir-nos em todos esses personagens e criar sensações potencialmente agonizantes.

Em minha concepção o único problema significativo de Koe no Katachi é tentar fazer muitas coisas em pouco tempo. Ele esgota-se no processo, por mais que eu goste de todos os personagens, realmente não era preciso tantos. Ainda que todos eles estivessem no manga original, lá havia tempo para dedicar a esses secundários. Com isso, acredito que se alguns desses elementos menores fossem eliminados, poderíamos ter um filme sumariamente melhor. Contudo, no escopo maior, minhas reclamações não são efetivas. Ou seja, eliminar a gordura para exibir mais daquilo que torna o filme incrível não diminui a qualidade geral, que está em outro patamar.

©大今良時・講談社/映画聲の形製作委員会

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